quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Os "sem pai"

Esses tipos se subdividem em vários gêneros. Tem os que nasceram já não conhecendo o pai. Tem aqueles que ainda aproveitaram um tempo da figura paterna mais logo o viram partir. Tem os de pais divorciados que só o veem uma vez por ano, no Natal. Tem os que ainda tiveram sorte de aproveitar a infância, a adolescência e a vida adulta ao lado do patriarca. Tem aqueles que nascem como peso de saber que os pai o rejeitou antes mesmo de nascer. Tem os que dão graças a deus que o pai nada protetor deu no pé.
Também são várias as maneiras como os "sem pai" lidam como fato de serem "sem pai". Uns fazem deboche, acreditam que o tom de ironia tem o poder de deixar a realidade mais amena. Outros não suportam falar sobre o assunto: cara triste, olhos cheios d'água e o arrependimento imediato do interlocutor de ter feito a maldita pergunta: "E o seu pai, faz o quê?". Uns são indiferentes, ignoram a própria dor, fingem que "não é nada", esses é que ficam constrangidos quando veem a cara da pessoa ao responder: "Morreu".
Independente do tipo, a maioria fica meio incomodada quando agosto chega. Eita mês desgraçado. Serve só pra lembrar o que não se tem. Eles ignoram, mudam de canal quando as Casas Bahia sugere à você "dar de presente para o seu paizão uma TV de plasma de 32 polegadas". Não veem a hora do infeliz segundo domingo do mês passar logo.
Cada um lida com a sua dor da maneira que suporta. A maioria das vezes abafada. Prefere não pensar no assunto, pra assim esquecer que algo lhe falta. Porque na verdade a dor dos "sem pai" é a dor da ausência. A de não saber como é ter a tal figura paterna. De não saber o que eles fariam de diferente da sua mãe. De não saber como seria se eles que tivessem te ensinado a andar de bicicleta. Será que você teria uma caixa de ferramentas se tivesse um pai? Teria aprendido a trocar os pneus do carro? Saberia jogar futebol? Seu pai iria de deixar ficar até um pouquinho mais tarde naquela festa que sua mãe te fez voltar a meia-noite? Ele iria ter uma "conversa séria" com seu primeiro namorado? Iria morrer de desgosto quando descobrisse que você não era mais virgem? Como reagiria ao seu primeiro porre? Apoiaria sua escolha na faculdade? Mexeria uns pauzinhos pra te ajudar no seu primeiro emprego? Iria insistir pra você se casar no religioso? Quantos netos ele iria querer ter?
A maior dor dos "sem pai" é a da dúvida, e a de ter que se contentar com imaginação na hora de calar suas inquietações.
Se tem uma coisa que os "sem pai" não gostam é de serem chamados de "sem pai", afinal, foi preciso de um espermatozoide muito esperto para que os "sem pai" existissem.

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