terça-feira, 22 de novembro de 2011

Nostalgia noventista



O show mais lindo-hipnotizante do SWU e talvez o último do SY


(texto publicado na revista Sintonia Universitária #08 em 12/2011 - página 60)

Apesar do apelo verde, não foram os fóruns de sustentabilidade que atraíram cerca de 70 mil pessoas, mesmo sob condições meteorológicas nada favoráveis, ao Parque Brasil 500.
- Olha o protetor de chapinha, cinco reais! – berrava um dos vários vendedores de capa de chuva espalhados por Paulínia.
A previsão para o terceiro dia do SWU era pouco animadora para quem pretendia passar o dia no festival em céu aberto, já que o tempo amanheceu fechado e chuvoso. Mas, os anos noventa foram mais fortes e conseguiram convocar milhares de pessoas a vestirem seu uniforme preto e xadrez, e irem para o interior. Com mais de uma década de atraso, o cheiro de nostalgia, principalmente grunge, era clara, afinal, em um festival que reuniu Sonic Youth, Stone Temple Pilots, Alice in Chains e Faith no More a sensação “back to the 90s” era evidente.
O festival se mostrou bem mais organizado em relação ao ano passado, em Itu. Não houve aquela fila imensa e nem confusões na hora da entrada e revista. Os organizadores, dessa vez, também se lembraram dos vegetarianos e teve até praça de alimentação veggie (ao contrário do ano passado, quando o churrasquinho dominou o festival que prega a sustentabilidade). Havia um grande número de banheiros espalhado pelo local dos shows (que era IMENSO: 1,7 milhões de metros quadrados), e as filas não eram muito demoradas.


O acesso CAÓTICO para o festival no ano passado em Itu
Outro ponto de vantagem em relação ao ano passado foi a montagem dos dois palcos principais um de frente para o outro. O esquema facilitou o deslocamento entre palcos e permitiu até ouvir, e ver no telão, o show que tava rolando no outro palco enquanto o que se aguardava não começava. A arquibancada entre os dois palcos também foi coisa linda, que além de proteger da chuva incessante, permitia dar uma descansada, aliás, bastava girar a cabeça para ter a visão de um palco para o outro.
Ficou faltando uma melhor sinalização dos palcos em si, e distribuição de folhetos com a ordem e local dos shows – o que deu de gente perdida! Além disso, outro ponto negativo foi a lama! Tudo bem que o festival ficou a cara do Glastonbury, mas não foi nada agradável usar os banheiros químicos ou se locomover entre os palcos a noite com chuva quando a lama tinha se transformado em praticamente areia movediça.

Segue abaixo a jornada musical da jornalista que aqui escreve:
O aquecimento ficou nas mãos do Black Rebel Motorcycle Club, que fez um show cru, porém certeiro. Empolgou o pessoal que ainda ia chegando com seu som garageiro-psicodélico-hipnotizante. A tenda Heineken Greenspace de música eletrônica foi uma alternativa bem legal para dar uma relaxada ou mudar um pouco de clima. Funcionou bem até ser enterrada pela lama.
O show da noite ficou por conta do Sonic Youth. Apesar da “juventude” já ter dado sinais de abandono no grupo, a empolgação com que Thurston Moore tocava sua guitarra era juvenil. A banda, que declarou ter um futuro “incerto” após o recentemente divórcio do casal Moore-Gordon, destrocou as guitarras, tirou som de tudo quanto é jeito: roçando a guitarra contra o baixo, guitarra na câmera do cinegrafista, baixo no amplificador, e terminou o show com suas distorções e estripulias inacreditáveis. Final de show apoteótico.
Fiz uma playlist como o "meu" melhor do terceiro dia:
O delírio sonoro prosseguiu com o show do Primus, a “descoberta” da noite. Os diferentes instrumentos (baixo acústico como cello, com seis cordas e outro com alavanca), o sotaque sulista do baixista e vocal, Les Claypool, as canções cujas letras eram “grunidos” por ele proferidos e o som experimental (às vezes incompreensível para a maioria do público), deram continuidade a loucura auditiva que o SY havia incitado. Logo depois, quem deu o ar da graça foi o Stone Temple Pilots. O vocalista Scott Weiland apareceu bem performático: berrando no megafone, fazendo dancinhas nas beiradas do palco e em cima do amplificador. A banda fez um show bem agradável. Conseguiu segurar a galera debaixo da chuva que começava a engrossar e fez tudo mundo cantar uníssono o hit Plush.
Festivais, em geral, têm aquele clima de comoção coletiva, de milhares de pessoas reunidas por um único motivo: consumir música, de todas as maneiras possíveis. Mas quando a carga é muito intensa há um descompasso entre corpo-mente e o desgaste físico é inevitável. Como estava pulando desde às três da tarde, não sobrou fôlego pra continuar no mesmo ritmo enlamada, com frio e embaixo de chuva durante os dois últimos shows da noite. Abençoada seja a arquibancada estratégica, de onde pude ver – confortavelmente – o Alice in Chains fazer muito neguinho se emocionar na celebração grunge quando mandou os singles Man in the box e Rooster. E ver o DOIDO do Mike Patton, dono de caretas demoníacas, bancar o pai de santo e fechar a noite, acompanhado pela voz angelical de um coral de criancinhas, enquanto entoava vários P**ra, C**lho!
Logo após o encerramento do Faith No More, em cima da arquibancada, uma chuva de fogos de artifício surpreendeu quem já estava de saída. Era a despedida pirotécnica do festival, consagrando a noite de nostalgia.
- Olha a água para curar a ressaca, dois reais na minha mão! – já antecipava o meu dia seguinte, um dos vendedores ambulantes na saída do evento.

SWU em números:
  • SWU teve 73 atrações musicais, que se apresentaram em três palcos e numa tenda eletrônica. O festival reuniu um público de 179 mil pessoas nos três dias – 64 mil pessoas no primeiro dia, 45 mil no segundo e 70 mil pessoas no terceiro. Um aumento de mais de 10% em relação ao ano passado.
  • O evento teve um número baixo de ocorrências policiais, decrescente dia a dia. Os boletins de ocorrência – quase a totalidade por furtos – foram de 78 no primeiro dia, 50 no segundo e 12 no último dia.
  • Presidente do Grupo Totalcom e idealizador do evento, Eduardo Fischer, confirmou a terceira edição do festival que acontecerá novamente em Paulínia, entre setembro e outubro, “para fugir da chuva”. Segundo eles, os preparativos para o SWU 2012 já começaram.

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