segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Pelo direito de chorar em lugares públicos

É sempre assim. Os soluços são abafados e você tenta se esconder como pode: atrás dos óculos, cabelos, boné, capuz, gorro, blusa, lenço, livro, mochila. A primeira solução imediata é recorrer ao banheiro mais próximo, trancar-se na cabine e tentar não fazer muito barulho. Mas, se você não tem essa alternativa, vai ter que conviver com a sensação de olhos te examinado de cima a baixo, te fazendo sentir-se um incômodo ao ambiente inabalavelmente plastificado ao redor. Taxada de louca pelos sussurros mudos, vai levar consigo nos olhos vermelhos o atestado de insanidade ou vulnerabilidade feminina.
Porque às vezes você descobre que sua vida é uma merda. Ou que você odeia o seu emprego. Ou que você se pega na dúvida se realmente ama a sua mulher. Ou que você se sente uma fraude. Ou que você ainda sente saudades. Ou que você não sabe ou nunca vai saber qual é o sentido da vida e qual é a grande merda de diferença que a sua existência faz pra humanidade. Ou porque simplesmente você acordou triste, você está triste. Essas descobertas provocam uma catarse que deve ser extravasada na hora e no lugar da tomada de consciência. Engolir choro é a pior coisa do mundo.
Então as lágrimas vem, e a sensação de estar manchando a normas do convívio social também. Por que minha tristeza incomoda tanto o ideal de felicidade plena que nem sei se existe e que ninguém consegue explicar? O choro é uma reação. É o impulso desesperado que se sente quando algo não está bem. É a necessidade incontrolável de querer mudar e não saber como nem porquê. O choro é apenas a expressão de minha melancolia. Porque ninguém acorda bem todos os dias. Porque prefiro o choro de uma tristeza que possa sentir à apatia do cotidiano impassível.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Os "sem pai"

Esses tipos se subdividem em vários gêneros. Tem os que nasceram já não conhecendo o pai. Tem aqueles que ainda aproveitaram um tempo da figura paterna mais logo o viram partir. Tem os de pais divorciados que só o veem uma vez por ano, no Natal. Tem os que ainda tiveram sorte de aproveitar a infância, a adolescência e a vida adulta ao lado do patriarca. Tem aqueles que nascem como peso de saber que os pai o rejeitou antes mesmo de nascer. Tem os que dão graças a deus que o pai nada protetor deu no pé.
Também são várias as maneiras como os "sem pai" lidam como fato de serem "sem pai". Uns fazem deboche, acreditam que o tom de ironia tem o poder de deixar a realidade mais amena. Outros não suportam falar sobre o assunto: cara triste, olhos cheios d'água e o arrependimento imediato do interlocutor de ter feito a maldita pergunta: "E o seu pai, faz o quê?". Uns são indiferentes, ignoram a própria dor, fingem que "não é nada", esses é que ficam constrangidos quando veem a cara da pessoa ao responder: "Morreu".
Independente do tipo, a maioria fica meio incomodada quando agosto chega. Eita mês desgraçado. Serve só pra lembrar o que não se tem. Eles ignoram, mudam de canal quando as Casas Bahia sugere à você "dar de presente para o seu paizão uma TV de plasma de 32 polegadas". Não veem a hora do infeliz segundo domingo do mês passar logo.
Cada um lida com a sua dor da maneira que suporta. A maioria das vezes abafada. Prefere não pensar no assunto, pra assim esquecer que algo lhe falta. Porque na verdade a dor dos "sem pai" é a dor da ausência. A de não saber como é ter a tal figura paterna. De não saber o que eles fariam de diferente da sua mãe. De não saber como seria se eles que tivessem te ensinado a andar de bicicleta. Será que você teria uma caixa de ferramentas se tivesse um pai? Teria aprendido a trocar os pneus do carro? Saberia jogar futebol? Seu pai iria de deixar ficar até um pouquinho mais tarde naquela festa que sua mãe te fez voltar a meia-noite? Ele iria ter uma "conversa séria" com seu primeiro namorado? Iria morrer de desgosto quando descobrisse que você não era mais virgem? Como reagiria ao seu primeiro porre? Apoiaria sua escolha na faculdade? Mexeria uns pauzinhos pra te ajudar no seu primeiro emprego? Iria insistir pra você se casar no religioso? Quantos netos ele iria querer ter?
A maior dor dos "sem pai" é a da dúvida, e a de ter que se contentar com imaginação na hora de calar suas inquietações.
Se tem uma coisa que os "sem pai" não gostam é de serem chamados de "sem pai", afinal, foi preciso de um espermatozoide muito esperto para que os "sem pai" existissem.

domingo, 7 de agosto de 2011

início

começo assim, abruptamente e sem aviso prévio. porque assim é que acontecem os começos e as primeiras vezes. nada planejado ou pré-fabricado. existo da vontade que nem sabia que me consumia. da inquietação de extravasar ou compartilhar meus anseios e minhas bobagens. meus delírios.